sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Discurso mudo

Descobri o quanto sou ruim com as palavras. Sabia que queria ouvi-las. Sentia o que queria ouvir, mas não conseguia falá-las. Talvez no não pronunciado, no não dito, no meu silêncio, você, de alguma forma, consiga escutá-las. Talvez não. Talvez meu silêncio não fale tanto quanto eu gostaria que ele falasse, talvez meu silêncio não discurse, silencie apenas. E, além da minha boca, meu corpo se cale, minha mão não escreva, meus olhos não olhem, meu sorriso não signifique, tudo silencie, emudeça,cale. Ou talvez você não os entenda e precise das sonoridades. Ou, quem sabe, você até os entenda, mas queira mais que um discurso mudo, queira que minha boca também se movimente, que não se acovarde e se abra com palavras, com as devidas e sentidas palavras. Elas, no entanto, teimam em não sair, em se esconder, em se calar, em me calar.
Talvez um dia eu as profira, por enquanto, espero, calada, que meu coração as fale, te fale. Já que este, diferente de mim, calado não está.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Recreio

Toc toc toc
A porta se abre
Numa mão a maçaneta
Na outra um chocolate
No rosto um sorriso
Imediatamente retribuído

Creck Creck Creck
Os dentes vão mastigando
A boca salivando
A língua degustando
O doce presente
Chocolate no dente

Um sorriso melado
Corre e dá um abraço
No pai amado
Voltara a sua infância
Por uns instantes
Tudo perdera importância

Voltara a ser criança

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Desconforto

-Desculpa... -Desculpa
-Não muda
Só machuca.


Hoje prefiro a ignorância
Do que esse desconforto
Vontade de sair do corpo
De não me ver em mim
Vontade de não ser assim
De fugir daqui, daí, dali...

Queria apenas sumir,
Inexistir

O vencedor

"Olha lá quem vem do lado oposto

E vem sem gosto de viver
Olha lá que os bravos são escravos
Sãos e salvos de sofrer
Olha lá quem acha que perder
É ser menor na vida
Olha lá quem sempre quer vitória
E perde a glória de chorar

Eu que já não quero mais ser um vencedor,
Levo a vida devagar pra não faltar amor

Olha você e diz que não
Vive a esconder o coração

Não faz isso, amigo
Já se sabe que você
Só procura abrigo
Mas não deixa ninguém ver
Por que será?

E eu que já não sou assim
Muito de ganhar
Junto às mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
Só pra viver em paz."

Macelo Camelo [Los Hermanos]

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A menina que queria doar o sorriso

- Eu posso doar meu sorriso? Perguntou a menina para si, quase sem esperança de que isso fosse possível.
Mas que sorriso a menina iria doar, se até o dela tinha sumido? Ela pensou... E pensou... Então veio a idéia: “Consigo sorrir se puder doar, então dôo esse sorriso!”.
Só que ela sabia que isso era impossível, a menina não conseguia nem dar um chocolate quanto mais o sorriso! E não poderia ser qualquer sorriso, tinha que ser um sorrisão daqueles que permanecem no nosso rosto em dias felizes.
É... A tarefa era difícil e a menina não sabia a solução. Não sabia nem por onde começar... Parecia mais uma daquelas questões de física que você lê, relê e não faz idéia de como solucionar, sabe nem se calcula velocidade, ou o tempo, ou a força... Pronto! A menina via-se assim, sem direção. Sentia-se impotente. Seu coração tava pequenininho...
Pensou de novo:
-Eu posso doar meu sorriso? Queria doar meu sorriso!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Um domingo. Um abraço. Uma história.

[...]

Parecia que aquela cena de todo domingo se repetia. Ela abria o portão e o deixava sair, mas, ao contrário das outras vezes, ele não estava saindo as 17h30, era cedo ainda, e ele nem ela estavam com a saudade que sempre ficavam. Ela chorava. Ele estava com raiva, estava magoado.
Ia terminar. Acabar. Estava desmoronando. Ela sabia disso, por isso chorava. Também sabia que a culpa era dela e também chorava por isso. Sabia que era ela a culpada, no entanto, não tinha forças para impedir que ele fosse embora, não tinha forças para reagir, só chorava...
O portão já estava aberto, ele se encaminhava pro carro, ela, encostada no pilar da garagem, o via ir, queria impedir, mas não sabia como... É... era o fim.
Então ele parou. E voltou. E então: o abraço.
Não qualquer abraço, AQUELE abraço.
Ele a abraçou fortemente, envolveu-a nos seus braços quentes. Ela deitou a cabeça no seu peito, chorando ainda, molhando-o. Ele continuava abraçando-a, ela também o abraçava. Ficaram ali, em silêncio, abraçados.
As mágoas aos poucos iam sendo esquecidas. Ele a perdoava, ela sabia. Naquele abraço eles, ele e ela, viram, mais uma vez, como se completavam. O abraço reconciliava, era reconfortante, sarava, curava.
Permaneciam em silêncio, apenas abraçados. Permaneceram ali durante alguns minutos. Nem ela nem ele sabiam quantos, mas isso não importava. Ela estava no melhor lugar do mundo, nos braços dele.
Depois, ele a beijou no rosto e ainda sem dar uma palavra - naquele silêncio que fala muito mais do que qualquer palavra - ela fechou o portão. Ele e ela de mãos dadas entraram em casa, voltaram. Foram até a cozinha, ele bebeu água, depois foram para a sala. A TV desta vez não foi ligada. Sentaram-se no sofá, ela encostando a cabeça no peito dele, estavam quase deitados – naquela posição preguiçosa que se senta no sofá- ainda de mãos dadas. Com a outra mão ele acariciava os cabelos dela e ela a barba dele. Ficaram ali, ainda em silêncio. Não queriam falar, não precisavam falar, então, aos poucos, adormeceram.
Não dormiram por muito tempo, foi mais um cochilo, mas ela gostou de está ali, ele também gostou. Então ela acordou e em seguida ele, os rostos estavam perto, as bocas também, e foram ficando mais próximas, mais próximas e mais...

[...]

domingo, 17 de agosto de 2008

Um dia de mar

Precisava ver o mar.
Sentir o vento assanhando os cabelos e chegando ao couro cabeludo.
Sentir a areia nos pés, abraçando-os, durante a caminhada. Sentir a água, gelada, salgada, regando-os e tirando uma possível sensação de calor.
Sentir o calor do sol, que, aos poucos, ia aquecendo meu coração.
Ouvir apenas o som das ondas quebrando, pois, não escutava o ressoar das vozes do meu lado, não estava disposta a escutá-las.
Precisava do silêncio da solidão, do silêncio do mar, só do mar...

Precisava ver o mar...
Sentir. Conversar. Ouvir.

Acalmar a alma. Enxergar minh’alma.

“Por que estais tão aflita? Por que não achas a saída? E como será?”
Fazia, mais uma vez, essas perguntas. E, mais uma vez, não obtinha respostas. No entanto, nessa conversa, o coração aos poucos foi se acalmando, a alma silenciando... A paz invadindo...

Estava sem um Norte ainda, com perguntas ainda. Mas...
Estava em paz...


-É! Precisava ver o mar...

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Novos sentidos

À Nathi,
Por me dá outros sentidos, novos sentidos
Por ser perto, longe
Os quilômetros
Estão mais perto
Mais do que os metros

O espaço entre estados,
Encolhido, acolhido, apertado

Num mental abraço
.
Já o tempo
Esse foi esticado, alongado
Descronometrado
Faz anos que te tenho ao lado

Hoje a métrica perdeu a precisão
E o dicionário a razão
Já que a distância, antes separação
Tornou-se sinônimo de proximidade, união

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Horizonte distante

Olhos distantes
Não estão molhados
Tampouco apertados
Apenas distantes
Procurando em algum lugar
O que não encontram ao olhar
Pra dentro de si
Procurando o que apenas em Ti
Um dia obtiviram e hoje precisam achar

"Como a corça anseia por águas correntes,
a minha alma anseia por ti, ó Deus."
[Sl 42:1]

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À Mima ,
não vou esquecer esse dia. Obrigada


Reparte
A parte
Que parte
Teu coração
.
Divida
A vida,
A parte partida,
A tua aflição