segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Costume

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

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O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09, de Marina Colasanti

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

PRIMAVERA

Pelo jardim cirandando
Rosas-meninas entrelaçadas
Exalam despreocupada alegria
E espalham perfume por aí

O aroma dessa brincadeira
Chama logo a passarada
Que ensaiada se põe a dançar
Com tamanha formosura

O colorido balé de flores,
Passarinhos e seres vivos
É ritmado pelo riso
E canta louvores ao Jardineiro
Que primavera a alma

[poema pro aniversário do blog da minha Mima]
[com muita influência do meu Pequeno]

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

sobre o amor


sexta-feira, 26 de agosto de 2011


"vidros fechados, gestos mudos do outro lado" [oficina g3]
fazendo o desenho e lembrando de Amós...
"... corra a retidão como um rio, a justiça como ribeiro perene!" [Amós 5:24]




quinta-feira, 25 de agosto de 2011

eu, por Quintana

I

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!

Mario Quintana - A Rua dos Cataventos

sábado, 26 de março de 2011

...

cheiro da noite
da terra molhada
do silêncio que ecôa
saudade

sexta-feira, 18 de março de 2011

Wouldn't it be nice?

Wouldn't it be nice if we were older
Then we wouldn't have to wait so long
And wouldn't it be nice to live together
In the kind of world where we belong

You know it's gonna make it that much better
When we can say goodnight and stay together

Wouldn't it be nice if we could wake up
In the morning when the day is new
And after having spent the day together
Hold each other close the whole night through

Happy times together we've been spending
I wish that every kiss was never ending
Wouldn't it be nice

Maybe if we think and wish and hope and pray
It might come true
Baby then there wouldn't be a single thing we couldn't do
We could be married
And then we'd be happy
Wouldn't it be nice

You know it seems the more we talk about it
It only makes it worse to live without it
But let's talk about it
Wouldn't it be nice

sábado, 5 de fevereiro de 2011

hope

If I find in myself
desires nothing in this world can satisfy,
I can only conclude
that I, I was not made for here
If the flesh that I fight is at best
only light and momentary,
then of course I'll feel nude
when to where I'm destined I'm compared

Speak to me in the light of the dawn
Mercy comes with the morning
I will sigh and with all creation groan
as I wait for hope to come for me

Am I lost or just less found?
On the straight or on the roundabout
of the wrong way?
Is this a soul that stirs in me
is it breaking free, wanting to come alive?
'Cos my comfort would prefer for me to be numb
And avoid the impending birth
of who I was born to become

Speak to me in the light of the dawn
Mercy comes with the morning
I will sigh and with all creation groan
as I wait for hope to come for me

For we, we are not long here
Our time is but a breath,
so we better breathe it
And I, I was made to live
I was made to love
I was made to know you
Hope is coming for me
Hope, He's coming for me
Hope is coming for me
Hope, He's coming

Speak to me in the light of the dawn
Mercy comes with the morning
I will sigh and with all creation groan
as I wait for hope to come for me
For me, for me, for me

[C.S. Lewis Song - Brooke Fraser]

sábado, 1 de janeiro de 2011

gratidão




O ano se rompe com o abraço mais gostoso, primeiro meu noivo, depois meu irmão, meu pai querido, mainha linda e os outros muitos irmãos que fazem parte da grande família chamada Satélite, abraço coletivo da minha família de fé. Com o gostinho de despedida, a certeza das consolações do Espírito e da fidelidade de Deus, o coração dava adeus a dois mil e dez grato por todos os dias que o Pai proporcionou.
Enquanto rompia a aurora, eu olhava pra aquela igreja e me dava conta do quanto me são queridos, do quanto eu os amo e de como eles são importantes pra mim. Deus me deu Satélite de presente. Lindo presente.
Além disso, olhava pro menino que estava ao meu lado e meu olho já se enchia de lágrima: vai ser difícil não sentar ao seu lado todos os domingos do ano que virá.

Dois mil e onze, por sinal, nasce repleto de mudanças, em todos os sentidos! Ganhei uma cunhada; queridos irão para longe (ou para mais longe); já terei que pensar em casamento; vou fazer uma monografia; serei, se Deus permitir, arquiteta, entres tantas outras coisas (dentro e fora dos meus planos, mas sempre dentro dos planos de Deus)...
Não terei mais meus telefonemas diários, nem meu xêro constante. O carnaval será sem ele e, depois de cinco anos, vou voltar a sair sozinha (calma amor, será com responsabilidade =p) ...
Como foi bom abraçar meus queridos hoje e saber que terei neles, os meus amigos da igreja, o consolo, a companhia e o amor pra suportar os dias em que a saudade se tornar insuportável.
Neste fim/início de ano foi bom ver que o Amor de Deus se manifesta ali, mesmo com as diferenças, os defeitos e os pecados de cada um de nós, e que este amor se faz mais forte a cada dia.

Sou grata a Deus, hoje, especialmente, pela minha grande família, por Satélite!